Manifestacao 29 de Agosto - 7 Anos de Vigário Geral
Tlahui-Politic 10 II/2000. Información enviada a Mario Rojas, Director de Tlahui. Brasil, a 25 de Agosto, 2000. Manifestacao 29 de Agosto - 7 Anos de Vigário Geral.
Acontecera no dia 29 de agosto, terca, no Rio, o dia de luta do povo - do
povo, nao da midia - contra a violencia policial/estatal e descaso com a
populacao.
A Frente de Luta Popular, união de movimentos populares independentes do
Rio, quer que o dia 29 de agosto se torne uma data de luta para o povo
pobre do Rio, de mesma maneira que a data do massacre de Eldorado de
Carajás é para os sem-terra. E assim como os sem-terra lembram Eldorado
com luta, ocupações de terras e protestos, vamos começar, todo ano, a
lembrar Vigário Geral com protestos e luta nas ruas, de maneira organizada
e sem interferência de governos, policiais ou traficantes.
No próximo dia 29, ajude a organizar na parte da manhã um protesto de sua
comunidade ou de uma comunidade que você conheça. Depois, vamos todos para
a Candelária, nos concentrarmos no ponto onde aconteceu a chacina de 1993,
a partir das 14 horas, para uma grande manifestação.
Terça, 29 de Agosto, a partir das 14 horas na Candelária
Frente de Luta Popular
Mais sobre o massacre de Vigario Geral
Na noite de 29 de Agosto de 1993, mais de 40 homens mascarados, armados
com metralhadoras, escopetas, pistolas e granadas, saíram de vários carros
e invadiram a favela de Vigário Geral, zona norte do Rio de Janeiro.
Divididos em 3 grupos, espalharam o terror durante quase três horas,
atirando nos primeiros que encontravam, incendiando trailers e
motocicletas, cortando fios telefônicos e destruindo orelhões. Agiam como
matadores profissionais, acertando a maioria de suas vítimas na
cabeça. No final, 21 pessoas mortas, nenhuma das quais tinha antecedentes
criminais. Entre elas, sete que estavam num bar e oito de uma mesma
família de evangélicos. Horas antes do massacre, o soldado PM Cláudio
Fialho, conhecido na favela por ameaçar e extorquir os moradores, havia
aparecido fazendo ameaças e prometendo vingança por quatro PMs que haviam
morrido no dia anterior, perto da comunidade. Moradores reconheceram como
sua a voz de um dos
encapuzados assassinos. Graças a isso, e apesar de Cláudio Fialho ter sido
morto numa queima de
arquivo, foi possível provar que todos os assassinos eram policiais
militares. Mesmo assim, até há
pouco tempo, apenas quatro PMs foram condenados (dois morreram antes de
serem julgados), 13
foram absolvidos e 14 ainda aguardavam julgamento (destes, apenas quatro
presos, que afinal foram
também absolvidos no último dia 24). Outros 19 policiais foram incluídos
num segundo processo. Em
resumo, 42 prováveis assassinos e policiais envolvidos na chacina (mais os
4 absolvidos agora) estão
à solta, matando quem sabe quantas mais pessoas.
O massacre aconteceu quando a PM estava sendo alvo de grande pressão,
pouco mais de um mês depois da chacina da Candelária (23 de julho), quando 6 policiais
assassinaram 8 crianças que
dormiam na rua, também sob pretexto de vingança, fato que repercutiu em
todo o país e no mundo
inteiro. Os policiais queriam mostrar, acima de tudo, que não se
importavam com acusações e que
continuavam a matar quando quisessem. Queriam mostrar, como fazem
diariamente em todas as
grandes cidades do Brasil, que têm o poder de vida e de morte sobre nós,
os pobres e os excluídos
por essa sociedade injusta. Queriam mostrar que estão dispostos a tudo na
guerra contra o povo que
fazem todo o dia, na qual as favelas são o principal "território do
inimigo".
Sete anos depois, apesar de tudo que foi dito e prometido por governos,
ONGs e campanhas, a
realidade é a mesma guerra, cruel e covarde, contra um povo desarmado. Os
ricos apavoram-se com
a "violência", fazem campanhas coordenadas pela sua ONG preferida, o "Viva
Rio" (ou Viva Rico,
como nós preferimos chamar), mas as vítimas que a cada dia tombam
alvejadas por armas policiais,
têm suas casas arrombadas e violadas, são assaltados e extorquidos por
PMs, sofrem as piores
humilhações, estão todas do outro lado: são moradores das favelas e
periferias pobres.
Mas, quando o povo não se conforma e protesta, ainda somos chamados de
baderneiros e traficantes.
Para os ricos, o governo e a polícia, todo mundo que mora em favela é
bandido ou gente que "não faz
falta" se morrer. Matam nossos parentes, nossos jovens e nossas crianças
como se matassem animais
num matadouro. Mas nós não somos bichos, somos gente e nossos protestos
servem para mostrar
que existimos e que não aceitamos mais essa violência.
Traficantes são principalmente os ricos empresários e latifundiários que
trazem a droga de fora em
navios e aviões. Traficantes e cúmplices são também os policiais que
protegem esses tubarões da
droga e os governos que os deixam soltos. A juventude que na favela se
perde no tráfico não entende
que estão arriscando sua vida para continuar a enriquecer todos esses
grandes traficantes que fazem
seu negócio sem nenhum risco. Não entendem que sua revolta se perde quando
vão para o tráfico,
que deveriam estar é lutando junto conosco para transformar a sociedade.
From: Anarquista Agnostico Punk anarquista@yahoo.com
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